sábado, 31 de outubro de 2009

São Paulo é bom! É só fechar os olhos...

São Paulo.

Juliana, 20 anos, trabalha e estuda de segunda a sexta feira. Atura crianças o dia inteiro e ainda assim consegue fôlego para enfrentar uma maratona de trabalhos universitários. Até que, finalmente, chega o tão sonhado fim de semana. O que fazer para relaxar?

Compras

COMPRAR! Ir ao shopping, ver aquelas roupas, aqueles sapatos, o clímax, o êxtase, o prazer maior de uma turbulenta semana. Horas e horas em frente a prateleiras e o salário que se vai rápido, ou melhor, a fatura que virá alta do cartão de crédito. E ainda tem a 25 de Março, que rua sensacional, quanta coisa boa para levar, para comprar, só que também, quanta gente, que aglomeração, quantos camelôs correndo da polícia.

“Ah, fecho os olhos”.

Parques

Bruno, também de 20 anos, adora a natureza e até no nome é assim: Bruno Leão. A vida não lhe deixa fugir da rotina de trabalhar todos os dias em uma livraria, ao lado de seu pai, Salim, e com seus irmãos Guilherme e Ana Maria.

Catalogar, carregar, ir ao banco, e depois, embora, é a rotina diária do rapaz.

Enfim, chega o fim de semana. Dia de ver a namorada, Priscila. Dia de juntar o pessoal e partir para o ônibus rumo ao Parque Vila Lobos. Um ônibus lotado mesmo aos sábados, tudo bem, é fim de semana. Para que relevar isso.
-Fecho os olhos.

Ao chegar, uma bola que não se sabe jogar, uma bicicleta alugada e, também, não se sabe usar. E o verde, árvores, trilhas, pessoas cercadas por uma imensidão de prédios de um lado, um shopping, no qual Marina  está comprando uma melissa neste momento, e a marginal. Vista linda para o Rio Pinheiros.
-É lindo. É só tapar o nariz.

Cultura

Carla adora um passeio cultural. Quer sempre encontrar algo novo perdido dentro dessa gigante cidade. Gosta de cultura, adora museus e ama ver a vida de uma forma que acredite ser original. 

Museu do Ipiranga, da Língua Portuguesa, de Arte Moderna, Sala São Paulo e vários outros, não faltam alternativas. O único problema é que perto de alguns lugares, como a Estação da Luz, ponto histórico de uma cidade, a pobreza reina, os mendigos, as drogas e a prostituição estão na cara.
-Feche os olhos.

Música

Tiago é bancário e não esconde seu gosto pelas músicas emotivas. Hoje é o novo gênero da cidade, o Emo  invadiu vários lugares. E shows de bandas assim aumentam a cada dia, e são as mais tocadas. (Ainda era uma época antes do Restart).

Tiago é amigo de Augusto, fervoroso fã de sertanejo e seus derivados. E quantas duplas dessa não surgiram. Amigo dos dois é Felipe. Menino do capeta diriam alguns. É daqueles que liga o celular no último e toca as melhores do funk carioca “sem calcinha”.

Amigos que se veem pouco, vivem estilos diferentes dentro de um mesmo mundo. Quando se encontram o que mais fazem, é fechar os ouvidos. Um não consegue aturar o gosto do outro e tantos gostos que não cabem em uma só cidade. Que diga as bandas Deja vu e Calipso.

Futebol

Kleber é verde. Muito verde. Descendente de italianos, odeia os nordestinos que diz ser “invasores de São Paulo". Ele ama o Palmeiras. 

Quanto o que ele pensa do Nordeste, talvez ainda seja possível uma transformação, já em relação ao time,  ele é irremediável. Vai ao Palestra Itália com o fanatismo que poucos poderiam ter.
Em dia de clássicos está sempre animado. Mas fecha os olhos para não ver uma torcida verde, que gosta de brigar com uma torcida alvinegra, ou com uma tricolor, por um simples jogo de futebol. Entristece, mas a bola rola.
A polícia até tenta. Mas também fecha os olhos, e só usa a força.

São Paulo

Quem tem uma religião fecha os ouvidos às outras.
Quem vai a um bar, fecha os olhos aos ébrios que não sejam conhecidos.
Quem vive em um bairro rico, fecha os olhos as 1600 favelas vizinhas.
A polícia gostaria de não ouvir que o crime organizado da capital é o mais bancado do país.
Quem vê tudo, ouvi tudo, e fala de tudo, às vezes fica depressivo.

Em comum

Juliana, Bruno, Carla, Tiago. Todos com algo em comum. Moram em São Paulo, e nunca foram ao 41º andar do segundo maior edifício do país: o Terraço Itália. Neste restaurante com vista para toda a cidade, um prefeito, um governador, quem sabe até, alguns vereadores, deputados e, porque não, senadores e presidentes daqui e de outras partes do mundo.
Enfim, políticos. Sentados em uma mesa extremamente confortável recebem o menu. O garçom serve uma comida que grande parte da população jamais experimentará. E por cima de tudo, do alto, eles fecham os olhos, a boca, o nariz e ainda cruzam os braços.

Apenas comem.

É São Paulo, é o Brasil

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