Para alguns, ser o dono da bola significa obrigação de participar da partida, mas nem sempre é um privilégio
A viatura para perto da escola e os policiais entram. São da guarda escolar e foram chamados pela diretoria. O motivo: Estavam jogando bola na quadra em dia de semana, impedindo que os professores dessem aula de educação física.
Quando chegaram, olharam para uma série de garotos disputando uma partida de futebol, com muitos gritos, mas sem confusão. Celso, um dos policiais, desce as escadas até a entrada da quadra. Depois, a bola foi chutada para fora, perto do guarda, que a pegou, levantou e, com um olhar sério, fez a pergunta:
― Quem é o dono da bola?
Depois de um breve silêncio, um dos garotos responde:
― Sou eu.
A bola vermelha era de Douglas. Ele era um garoto de 12 anos quando ganhou a bola vermelha e que gostava muito de jogar futebol na rua. Não tinha lá muita habilidade com os pés, tanto que eram tortos. Falta de talento que o levou ao gol e, até, era considerado um bom goleiro.
Um dos locais preferidos dos garotos para jogar futebol eram as quadras escolares, porém elas são fechadas a maior parte do tempo. Certo dia, enquanto estreava sua bola na rua de casa, alguns amigos o chamaram para jogar naquela escola e ele não titubeou.
Só não esperava que o jogo, que era de dez se tornasse de mais trinta (os moradores de perto do local também foram à quadra), e nem que a polícia o levaria por ser o dono da bola.
― Todos podem ir embora.
― Mas por que só ele? ― questionou um amigo.
― Sem bola não tem futebol, a responsabilidade é do dono da bola ― concluiu o guarda abusando da filosofia e do silogismo lógico.
Não tinha jeito, ele já havia assumido. Todos foram embora, com a exceção dos garotos que o chamaram para jogar, pois queriam saber o que ia acontecer.
― Vocês podem ir, não tem nada para ver aqui.
Com receio, Douglas já se imaginava dentro daqueles centros de detenção de menores, na época, a mal falada Febem, que sempre dominava as páginas policiais.
― Quantos anos você tem?
― Doze.
O guarda fez sinal de reprovação.
― Sem a bola não tem futebol, é por isso que você ficou. Qual é o seu nome?
― Douglas.
― Então Douglas, dessa vez passa, mas da próxima, você vai preso por vadiagem. Me dá seu telefone.
O garoto foi embora e descobriu que nem sempre é bom ser o dono da bola.
Essa foi a primeira batida policial de Douglas e a única. O trauma fez com que ele nunca mais voltasse em uma quadra. Quanto ao policial, que nunca jogou futebol, continuou assustando adolescentes que gostavam de futebol.
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