Ela é a única certeza da vida. Só isso já torna a morte algo poderoso, imudável, invencível e temido. Mas qual é o maior pecado? Qual a grande injustiça com quem parte? Com quem morre. Independente de crenças, não sabemos com clareza o que virá depois da vida, ou se algo realmente virá. Mas isso está longe de ser a maior perda de quem parte.
Seu João teve uma vida dura. Saiu da roça, veio para a cidade grande e criou ao longo de seus 85 anos, 15 filhos. Sobre sua educação, todos se tornaram pessoas de bem. Eles cresceram, se mudaram, foram para várias partes do Brasil. Destes, dez ainda estavam vivos quando João viveu seu último dia. Pela primeira vez em mais de vinte anos estavam todos reunidos novamente, mas não para comemorar, mas dar adeus, a quem não podia mais responder.
Dona Ana, tinha mais de 100 anos nas costas. Uma guerreira. Em São Paulo criou filhos. Estes filhos tiveram netos. Estes netos tiveram bisnetos. Dona Ana não chegou a conhecer muitos destes. Os poucos que ainda a visitavam eram os filhos mais próximos, o que nunca a desanimou a viver, mesmo com as dores da idade. Netos, bisnetos e filhos se encontraram apenas um dia, e era para o enterro de Dona Ana.
Em 2007, um menino foi arrastado por um carro que acabara de ser roubado. Os bandidos não perceberam e o menino ficou pendurado e não resistiu depois de percorrer alguns quilômetros. Em São Paulo, no ano passado, uma menina foi jogada de uma janela e também faleceu. Elas talvez não tivessem ideia do que é a morte, e muito menos de que milhões de pessoas ficaram comovidas. Milhares foram aos enterros, acompanharam o cortejo e clamaram por justiça por suas vidas.
Michael Jackson foi o Rei do Pop para muitos, e sem dúvida, um dos maiores artistas de todos os tempos. Michael cantou, dançou e emocionou multidões em todo o mundo. Cometeu erros, como todo o ser humano comete, talvez mais do que um ser humano comum. Acabou se viciando em remédios, destruiu sua face, claro que com uma infância difícil, culpou seu pai. Mas não serve de desculpa, contudo explica o triste desfecho de sua carreira.
Ao anúncio da morte do cantor, as agencias de noticias travaram. O Google teve problemas para comportar tamanho acesso. Pessoas por todo o planeta choraram, cantaram, relembraram os momentos marcantes, homenagearam, como jamais ele havia sido homenageado.
A morte sepulta desde “imortais” até o mais humilde dos homens. Essa é a grande justiça da vida. O grande pecado com aquele que parte é não poder acompanhar o seu funeral. Não ter a chance de assistir a sua despedida, de se despedir. Perder a oportunidade de ver aqueles que te o odiaram durante sua vida, que fazem pose agora de boas pessoas dando um abraço amigo. E principalmente, não poder acompanhar o quanto às pessoas realmente lhe amavam, como elas sentirão sua falta, a forma que elas te homenagearam, e de como seria bom dizer adeus a todos. Seria sentir um último suspiro de felicidade ao receber o tributo de quem realmente nos ama.
Homenagear sempre é preciso. Dizer que gosta de alguém sempre é bom. Uma palavra amiga é sempre bem vinda. Pois nunca saberemos as surpresas do dia de amanhã e do que será depois deste plano.
Um comentário:
Nossa, fiquei comovida com tamanha descrição. Seu texto é reflexivo, nos leva a pensar quão insignificantes somos,acho que a única certeza que temos,na verdade, não é a morte, e sim quão verdadeiras são as nossas relações, pois a morte depende da perspectiva de cada indivíduo.
Um pouco auto-ajuda, porém quem disse que não é o que mais precisamos neste momento. A coletividade, o outro é a ajuda que falta,também há ausência do pensar tão importante e determinante. Contudo, talvez apenas os mais humildes consigam observar estas questões.
Patrícia Silva
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