segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Os anjos dos bêbados

Sorte? Provavelmente ele nem vai lembrar de quem o ajudou.

“Rio Pequeno, esse ônibus ... passa no Rio Pequeno?”A voz vem com extrema dificuldade, lenta. É um senhor completamente embriagado dentro de um ônibus na Zona Oeste de São Paulo. O cobrador com toda a paciência explica. “Não, ele segue a Avenida Corifeu inteira, mas passa ao lado da Avenida do Rio Pequeno.”

“Então não sei se é esse. Mas deve ser...”



O bebum não parece um bêbado qualquer. Está bem vestido e, aparentemente, tem um garoto que lhe acompanha. A preocupação do menino é grande, tanto, que parecem pai e filho. De um lado, o senhor já com seus cabelos brancos, mas está de roupa social e seus olhos bem fechados de tão tonto que está. O garoto tem um jeito mais skatista, de boné.

“Para o ônibus, ele pegou errado, vou ajudá-lo”, diz o garoto que parece saber o caminho de sua casa.
Ele pega no braço do senhor e o ajuda a caminhar até a entrada. “Não, mas eu não peguei ônibus errado não”, rebate o alcoolizado já caminhando para perto da porta. “Vamos, esse não passa no Rio Pequeno”.
O coletivo para e a porta é aberta. O garoto desce e, enquanto espera pelo seu acompanhante do lado de fora, a porta se fecha, o ônibus arranca e o garoto fica sozinho no ponto.

Alguns se espantaram dentro do ônibus. “Ele não desceu?” “Nem era pai dele, ele estava tentando ajudar”, arrisca uma moça no ônibus.
O bêbado segue no veículo, só que agora ao lado do motorista. “Era seu filho?”, questiona o responsável pelo coletivo. “Não, num sei quem era”. “Aonde você vai descer?”. “Aaaaa.... li é onde Deus mora”. “Senta aí e para de me atrapalhar, no Rio Pequeno você desce”. “Você vai me levar até minha casa?”

O homem desceu (quase caindo) no Rio Pequeno, o garoto ficou muitos pontos atrás. “Ele estava querendo roubar o bêbado, era um ‘nóia’. Eles bebem e ficam com o dinheiro à mostra, aí os espertinhos roubam fácil”, conta o cobrador depois do ônibus ter esvaziado. “Cuidar dos bêbados, a gente cuida direitinho, desses nóias é que não dá”.

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