O calmo bairro do Cardume encontrou uma lâmpada sem luz. Quem pode resolver este problema?
Uma lâmpada se queimou. Desde a noite, a luminária de uma rua no bairro do Cardume estava apagada. A luz que vinha dela compreendia uma parte da rua e deixava escuro um curto espaço da via. Não era um local movimentado e nem perigoso, mas causava certo incômodo. A iluminação do resto da rua seguia intacta.
Ao se depararem com a lâmpada queimada, os moradores pensaram: “Quem devemos chamar para resolver o problema?”
A Companhia Elétrica? Não, demorariam dias para chegar, fora à demora no atendimento telefônico. O Corpo de Bombeiros? Mas não tinha quem socorrer. Poderiam falar que o poste estava ‘ferido’, mas não havia sinal de problemas. A Companhia de Engenharia de Tráfego? Diriam que os semáforos estavam apagados. A Polícia? Fios roubados talvez comovessem mais a corporação.
Até que decidiram quem deveriam acionar. Era o principal, aquele que resolve, aquele que sempre consegue as soluções dos problemas: a imprensa.
Cada um tratou de ligar para uma redação diferente, para uma TV diversa, para os rádios da manhã, e para o setor de reclamações dos jornais. Todos denunciaram a falta de energia no bairro. Logo, repórteres se colocaram a disposição e correram para cobrir o acontecido.
Na TV
Ao meio dia, os jornais começaram mostrando o problema da falta de energia no bairro do Cardume. Mesmo de dia, o link ao vivo mostrava a lâmpada e uma série de moradores revoltada com a falta de energia. O helicóptero sobrevoava o bairro e observava de cima toda a movimentação das pessoas. Em nota a equipe de energia elétrica, informou que iria verificar o acontecido e que logo tudo seria resolvido.
Depois, um dos apresentadores lembrou um triste momento, no qual conviveu com o mesmo problema, e não havia ninguém para lhe ajudar. Criticou ainda todos os órgãos públicos possíveis.
No Rádio
A entrada foi rápida, mas a reportagem descreveu o abalo sofrido pelos moradores da lâmpada apagada. Âncoras abriram os programas narrando momentos de tensão que podem ser provocados pela falta de energia e ainda cobraram a falta de respeito do poder público que deixa UMA lâmpada ficar apagada em bairros da cidade.
Informou que o policiamento também iria ser reforçado na região, afinal, poderia ser uma noite sem luz.
Nos jornais
Os repórteres conversaram com os moradores e logo pediram balanços a Companhia Elétrica sobre o número de lâmpadas que queimaram no bairro Cardume nos últimos dez anos. Entraram em contato com o transporte público para apurar se os ônibus circulariam da mesma maneira sem energia. Ao policiamento, questionaram se a lâmpada realmente se queimou, ou se seria um atentado contra o bairro. Também entraram em contato com o fabricante da lâmpada, o qual informou que às vezes elas realmente queimam.
No outro dia, matérias estampariam: LÂMPADAS QUEIMADAS NO CARDUME AUMENTAM EM 100% (Onde nunca houve uma lâmpada queimada, agora tinha mais que o dobro).
Na internet
Veja em tempo real a cobertura da lâmpada queimada no bairro do Cardume.
A troca da lâmpada
À tarde a poeira baixou e a lâmpada não foi arrumada. Parece que a Companhia de energia elétrica iria trocá-la no outro dia de manhã, durante os jornais ao vivo.
Afinal, depois de tanta repercussão, a solução do problema precisa ser mostrada. Enviaram um comunicado à imprensa, de que haveria um entrevistado e tudo transmitido no local do problema.
A luz voltou. Já o Cardume, nunca mais foi o mesmo.
2 comentários:
Nossa,
Bela crítica ao comportamento da imprensa e a postura da população. Ilustrou com precisão a mediocridade do jornalismo, em muitas vezes, e a repercussão de um fato banal entre as pessoas, se podemos dizer assim, quando divulgado pela mídia.
Patrícia Silva
Quarto Poder. Alguém duvida? Não me surpreende que o texto seja teu. :)
Cecilia
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