Em um trem sem condutor, de quem são as vozes operacionais e por que todos podem escutá-las?
O metrô amarelo parte da estação da Luz, com destino ao Butantã, quando um menino para, olha para o pai, e faz a pergunta essencial.
Eles estão naquele que seria o primeiro vagão da composição – embora não haja divisão entre os vagões - da recém inaugurada linha amarela do metrô. O pai olha para o filho e tenta explicar, pois ele também fica pensando: “Máquinas falham, porque essa não pode falhar?”
- É tudo computadorizado filho. Não há falhas, é de um computador central que os operadores dirigem o metrô.
O garoto, curioso, faz cara de entendido e prefere ficar em silêncio ao invés de dizer a verdade. Não entendeu nada. De repente, algumas vozes começam a surgir.
“Alô Ciclano Composição Atkyh vikdhjdn”. – Não dá para compreender, o rádio não está tão bom, ou não é direcionado para os passageiros. Em seguida uma resposta de outra voz.
“Certo, kdhgojndoindomd.”
- Quem está falando?
-São os operadores. Devem se comunicar para que a viagem transcorra bem.
- Mas eles não estão do computador, por que tem que falar e por que não entendemos?
Para o pai foi uma boa pergunta: ‘se é automático por que as vozes chegam até nós?’ Com quem estão falando? Será que estamos com algum problema, será que há uma falha no sistema. As perguntas vão se somando e relembram que a inauguração por inúmeras vezes foi adiada. Será que está tudo certo?
- Olha a viagem, brinque de condutor, e chega de perguntas.
As vozes sombrias param e, logo depois, uma outra voz normal e bem identificável é escutada.
Tudul – Por motivo de ajuste dos trens estamos circulando com velocidade reduzida e maior tempo de paradas nas estações.
O som que mais irrita os passageiros, desta vez teve um bom significado: Indica, com certeza, que é só mais uma viagem normal no Metrô.
Um comentário:
Paulo, como sempre muito bons os seus textos.
O exercício de construir cenas está dando excelentes resultados!
Parabéns!
Fernanda Kanasiro
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