domingo, 23 de outubro de 2011

Dormir no Ônibus: a rotina de 'seu' Pernambuco


Com sono. Assim está seu Pernambuco em mais uma viagem no ônibus. De boné e roupa surrada, o senhor segue seu trajeto para casa. Encostado com a cabeça no vidro, ele ocupa um lugar de idoso e é um velho conhecido dos motoristas, que sabem, inclusive, o ponto em que ele deve descer.


― Seu Pernambuco, feira do rolo seu Pernambuco. ― Avisa o motorista.

― An?

― O ponto seu Pernambuco, já é seu ponto, na feira do rolo.

― An? Hum? Quê?

― O ponto!

― Ah! ― se levanta finalmente. ― Obrigado.

Desce, faz sinal de jóia e lá vai ele todo, todo.

Seu Pernambuco parece já ter vivido muito e, pelo cansaço com que volta para casa, continua trabalhando.

― Se a gente não chama, ele passa direto. Já fui com ele e voltei várias vezes porque passa do ponto. Se depender dele, fica o dia inteiro dentro do ônibus. ― lembra o motorista.

Mas, o dormir de Seu Pernambuco nem sempre é tão despercebido. Uma senhora de idade entrou no coletivo e se sentou ao lado dele, no banco do idoso. Dormindo, espaçoso, com as pernas ocupando um pouco mais do que seu banco, a senhora se sentiu incomodada. Muito incomodada:

― EI! VOCÊ! VAI DORMIR EM CASA! ― gritou a senhora.

Seu Pernambuco se assustou. O sono e a paz foram interrompidos bruscamente por aquele grito desenfreado. Ele olhou para ela com espanto e fixou os olhos nela por um bom tempo. Deve ter pensado: “Eu durmo onde eu quero”, “cuida da sua vida”, “me deixa”.

Depois de ficar quase um minuto olhando a expressão irritada da outra, deu um leve aceno com a cabeça. Fez uma cara de desdém, se virou e voltou para seu sono, sem nem melhorar sua posição. A senhora não voltou a incomodá-lo, desistiu.

Ninguém atrapalha o sono de Seu Pernambuco.

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