Com sono. Assim está seu Pernambuco em mais uma viagem no ônibus. De boné e roupa surrada, o senhor segue seu trajeto para casa. Encostado com a cabeça no vidro, ele ocupa um lugar de idoso e é um velho conhecido dos motoristas, que sabem, inclusive, o ponto em que ele deve descer.
― Seu Pernambuco, feira do rolo seu Pernambuco. ― Avisa o motorista.
― An?
― O ponto seu Pernambuco, já é seu ponto, na feira do rolo.
― An? Hum? Quê?
― O ponto!
― Ah! ― se levanta finalmente. ― Obrigado.
Desce, faz sinal de jóia e lá vai ele todo, todo.
Seu Pernambuco parece já ter vivido muito e, pelo cansaço com que volta para casa, continua trabalhando.
― Se a gente não chama, ele passa direto. Já fui com ele e voltei várias vezes porque passa do ponto. Se depender dele, fica o dia inteiro dentro do ônibus. ― lembra o motorista.
Mas, o dormir de Seu Pernambuco nem sempre é tão despercebido. Uma senhora de idade entrou no coletivo e se sentou ao lado dele, no banco do idoso. Dormindo, espaçoso, com as pernas ocupando um pouco mais do que seu banco, a senhora se sentiu incomodada. Muito incomodada:
― EI! VOCÊ! VAI DORMIR EM CASA! ― gritou a senhora.
Seu Pernambuco se assustou. O sono e a paz foram interrompidos bruscamente por aquele grito desenfreado. Ele olhou para ela com espanto e fixou os olhos nela por um bom tempo. Deve ter pensado: “Eu durmo onde eu quero”, “cuida da sua vida”, “me deixa”.
Depois de ficar quase um minuto olhando a expressão irritada da outra, deu um leve aceno com a cabeça. Fez uma cara de desdém, se virou e voltou para seu sono, sem nem melhorar sua posição. A senhora não voltou a incomodá-lo, desistiu.
Ninguém atrapalha o sono de Seu Pernambuco.
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