Chove forte em São Paulo. Na região da Luz, as pessoas correm para não se molhar em meio há muita água e vento por todos os lados. Quem cruza a Avenida Rio Branco com a Duque de Caxias não tem muitos abrigos para se acolher. A estação Júlio Prestes e Luz ainda estão longe e enfrentar essa distância com tamanha quantidade de água não é uma boa pedida.
Embaixo de uma banca de jornal, um rapaz encontra um lugar para se esconder. A calçada começa a encher de água. Logo pensa: Será que aqui é um ponto de alagamento? Haverá uma enchente ou tudo vai passar em poucos minutos?
A ventania assusta, as pessoas que estavam sentadas na entrada de um bar se escondem. Os salões fecham as portas, mas mantém seus clientes. Outros conseguem chegar rapidamente a um bar para se proteger.
De longe, bem longe, alguém está se cobrindo com algo preto. Parece um saco. Segurando uma espécie de bengala ele tenta sair da praça onde se encontra a estação de trem. O pequeno pedaço de saco, que com certeza é de lixo, não deve estar adiantando muito para protegê-lo. Mesmo assim, ele enfrenta a água.
Um homem com algo nas mãos passa correndo pela banca, dando um susto no rapaz. Com um sorriso absurdo nos lábios, está alegre por conta da chuva e procura um caminho. Nas suas mãos nada demais, apenas um rodo. Era o limpador de vidros que tenta agora se proteger perto da banca e, logo depois, parte em disparada.
O susto foi o suficiente para aquele outro homem com o saco preto se aproximar. Há poucos metros da banca, ele não segura uma bengala, mas um pau de vassoura. Quando finalmente chega perto, parece não ver ninguém, quase esbarra em cima do rapaz que se escondia ali. Pronuncia algo impossível de entender.
Depois de parar um tempo e olhar ao seu redor, ele tosse. Uma tosse forte, constante. Ele não põe a mão na boca, parece querer expulsar para o ar o mal que seu corpo não suporta mais. Educação nunca deve ter lhe ajudado. Não dá para saber se sua tosse é só por conta da chuva ou se tem alguma doença, mas ele não para.
Após mais de três minutos de tossidas seguidas para o alto, ele para, respira, olha para o dono da banca e fala.
─ Um cigarro, fazendo favor.
O senhor pega um cigarro, um isqueiro e ascende o fogo para o homem. Ele fuma, tranquilamente, como se fosse um remédio. Depois de terminar, pega o saco preto, cobre sua cabeça, segura novamente o pau de vassoura e sai de volta para a rua. A chuva já diminuiu um pouco.
Ele segue caminhando, lentamente. Sem destino, sem saúde e, pouco à pouco, sem vida.
É a Luz.
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