Retrato de uma época, o livro “1968 – O ano que não terminou” é uma obra histórica, em que o jornalista e escritor Zuenir Ventura conseguiu montar um enredo com os principais temas que delinearam o mais complicado momento da ditadura brasileira, o AI-5 (Ato Institucional Número 5). O texto é narrado num estilo de romance não ficção, no entanto, sem concentrar em poucos personagens, e sim, em várias pessoas que participaram dos diversos movimentos da época.
Estudantes. Um dos movimentos mais respeitados pelo autor, e talvez da época, foi a ação estudantil. Dentre suas mobilizações, eles conseguiram reunir cerca de 100 mil pessoas para uma passeata contra a ditadura no Rio de Janeiro. No entanto, os rachas dentro do grupo também foram responsáveis pelo enfraquecimento e rápido domínio do grupo.
A diferença daquele ambiente é que os estudantes tinham um hábito de leitura muito maior do que é visto hoje. Aliando isso a grande repercussão de obras socialistas e de extremistas, os personagens inspiravam nesses jovens o espírito da revolta.
A revolução cubana ainda era recente, e a burguesia da época inspirava os estudantes. Mas o número de pessoas engajadas era imenso, o que assustou a repressão que foi dura, e resultou no ato que ampliava a ditadura, no final de 1968.
Hoje, é possível encontrar o mesmo cenário, mas de forma bem menos concentrada, como o "Movimente Passe Livre", que embora busque direitos inerentes a todos os usuários, não tem em seus integrantes, as categorias mais necessitadas. Não há operários, pedreiros, ou pessoas com maiores necessidades nesses movimentos.
O livro. O autor utiliza a ordem cronológica do ano para traçar uma rota. O início acontece com os movimentos revolucionários que emergiam com toda a agilidade e pensamento estudantil e que acabam eclodindo na reação militar no fim do ano com a instalação de mais um ato Institucional, o mais repressor de todos.
Dentre os personagens principais, se destacam lideres da ação estudantil como Travassos, Vladmir Palmeira, José Dirceu e Franklin Martins. Dentro do Congresso, a ação do deputado Marcio Moreira Alves, o marcito, que foi usado como bode expiatório para a instalação do ato ditatorial.
Também ganham destaque os militares que aplicaram as mais duras punições. No livro se destacam o presidente Arthur da Costa e Silva, mas principalmente, o Ministro da Justiça Gama e Silva e outros generais que já queriam atos para disseminar o terror como Geisel e Médici.
Os depoimentos colhidos no livro avaliam a ação jovem e a resposta militar, e a forma como o autor conseguiu conduzir a história e narrar os fatos mais importantes do ano, faz com que o leitor consiga entrar dentro do contexto e acreditar que àquela realmente foi uma esplêndida geração.
Mas que foram arrasados por um golpe, de um ano que realmente não terminou, pois sentiram por dez anos o peso da mais absurda repressão.
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