As dificuldades de uma criança ao dormir
Hora de dormir. Aos sete anos, dormir não é assim tão fácil. É o que acontece com Ailton. Ele está em uma época em que a imaginação cria, transforma e aumenta qualquer pensamento, o que pode ser muito bom ou assustador. Mas, enfim, é hora de se deitar, depois se cobrir, colocar a cabeça no travesseiro, fechar os olhos e esperar o sono vencer. . . . .
PA. “Que barulho forte. Ah, acho que não é nada”, pensa o garoto. PA. “Outra vez, isso está estranho.” PA ... PA... PA... PA. “Meu Deus, deve ser um tiroteio. – O sono não vem e os barulhos aumentam.” PA PA PA PA PA PA . . . . A mente do garoto começa a desenhar as hipóteses. Morar perto de uma favela só agrava a situação. PA PA PA PA PA POU PA POU PA POU.
PA. “Que barulho forte. Ah, acho que não é nada”, pensa o garoto. PA. “Outra vez, isso está estranho.” PA ... PA... PA... PA. “Meu Deus, deve ser um tiroteio. – O sono não vem e os barulhos aumentam.” PA PA PA PA PA PA . . . . A mente do garoto começa a desenhar as hipóteses. Morar perto de uma favela só agrava a situação. PA PA PA PA PA POU PA POU PA POU.
Tiro em si, ele nunca ouviu, ou melhor, até escutou alguns, mas eram tiros virtuais. Algumas vezes em filmes de ação, em que as balas correm soltas para todos os lados, além das inúmeras explosões. Na outra ocasião, ele assistiu a um tiroteio ao vivo, em telejornais que mostram o mundo pior do que ele já é.
PA PA PA PA PA. O barulho se intensifica cada vez mais. “Para, para, proteja minha família, que ninguém morra.” Se tivesse mais idade pensaria até que a polícia invadiu a favela, e que era uma profunda operação para desmantelar o tráfico de drogas. Imaginaria ainda que era mais uma guerra pela liberdade.
Mas o medo toma conta, e não há o quer fazer a não ser esperar. “Será que helicópteros, viaturas, alguém vai ajudar a resolver o problema?”
PA PA PA PA. Se levantar e ir até a janela para ver o que se passava estava fora de cogitação. O medo era maior.
PA PA PA ...mas o barulho foi parando.
PA PA... “Isso, parem!”
PA.
Silêncio. . . . . .
Apenas para situar, não há uma favela embaixo da casa de Ailton. Um dia houve, mas o local já está completamente urbanizado. E também, não havia nenhum tiroteio.
Uma família construiu um barraco irregular durante a madrugada, atrapalhou o sono do bairro e colocou em pânico a mente da criança, que não precisava entrar em pânico, caso convivesse mais com a sua infância do que com o terror ampliado no dia-a-dia, que vai dos jornais matinais às novelas e desenhos que mostram tudo à todos.
Tragédia no Rio. O atirador que matou doze crianças na escola em Realengo, no Rio de Janeiro, em uma tragédia sem precedentes no Brasil, não teve nenhuma influência com esta postagem, que já estava preparada antes. No entanto, é com pesar que vemos cenas tão absurdas e com verdadeiro choque acompanhamos o desenrolar dos acontecimentos na capital carioca. E sem dúvida é preciso acompanhar, pois é relevante.
Mas, será que é importante colocar uma foto ampliada do corpo do assassino morto na capa do jornal (Será que é preciso tanto para lucrar?). Será preciso remoer ainda mais essa situação, assustar outras crianças em escolas distantes, transmitir ainda mais terror querendo colocar portões metálicos em tudo? Foi assustador, mas é preciso calma. (O que não é fácil)
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