segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ser pão duro: a arte da persistência

Longe de casa, em Aparecida do Norte, um velho senhor, de 65 anos, faz o único passeio que tem aproveitado nos últimos anos. Uma breve viagem de ônibus em direção a cidade que é conhecida como ‘capital do catolicismo no Brasil’. Com ele está seu filho, que aproveita os momentos com o pai e tenta ajudá-lo a aproveitar um pouco a vida, ao invés de apenas guardar seu rico dinheirinho.


Ao lado da imensa catedral de Nossa Senhora Aparecida, uma feira e incontáveis vendedores ambulantes fazem o comércio de todo o tipo de mercadorias. Os visitantes da cidade têm como costume levar uma lembrancinha para quem não pôde vir. E isso serve até mesmo para os mais pão duros.

― Tem que levar uma coisinha para sua filha.
― Tá, vamos lá ver o que tem para vender.

Andando pelas lojinhas, o senhor entra em uma barraca, em outra e em mais uma. O objetivo: encontrar algo que custe no máximo, no máximo R$ 10. Afinal, ele quer levar uma coisa para a filha e também para a esposa, o que já rende um total de R$ 20, caso consiga fazer uma boa pechincha.

― Está difícil encontrar alguma coisa. Bom vamos comer?
― Vamos lá então.
― Você quer almoçar aonde?
― Não, em lugar nenhum, aqui está tudo caro. Eu trouxe sanduíches.

De volta ao ônibus, ele e seu filho comem os pães com mortadela e refrigerante que trouxeram de São Paulo. O almoço em Aparecida realmente não é dos mais baratos. Depois de comer, uma ida a catedral.

― Vamos na torre.
― Pagar R$ 3 só para subir lá em cima? Não dá, né.

Chegando ao fim do passeio, mais uma tentativa de fazer compras.

― Olha só essa santinha. Só R$ 6,00.
― Legal, vou levar para minha filha.

Depois da compra, ele tentou encontrar algo diferente para a esposa. Andou por algumas lojas e nada.

― Bom, vamos levar uma outra santinha como essa, é a melhor solução ― sugeriu o filho.
― Certo, vamos voltar lá.

Andaram um bom tempo pelas bancas e nada. Não encontraram a lojinha, eram muitas por lá. Mas, em uma outra barraca, os dois viram uma santinha idêntica a anterior.

― Senhor, quanto está? ― questionou João.
― Está R$ 7 ― respondeu o vendedor.
― R$ 7? 
― Isso, R$ 7
― Você faz por R$ 6?
― É... não, são R$ 7.
― Vamos filho, vamos andar que nós encontramos aquela loja em que achamos por R$ 6. Está muito caro, poxa.

Os dois voltaram para casa sem encontrar a loja e sem o presente para a esposa.

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