sábado, 31 de março de 2012

É tempo de eleição e de estranhas bondades

Logo cedo, um carro de som traz música para um bairro distante do centro. Em cima de um campinho de futebol improvisado, são colocados brinquedos, um balão pula-pula e uma máquina de algodão doce.


A diferente manhã de sábado, para moradores que nunca viram esse tipo de entretenimento por perto, continua ao verem a fila de crianças se formando em torno do brinquedo.

Depois de alguns segundos de samba, o alto falante do carro é acionado.

― Obrigado a Fulano. Fulano é legal, Fulano mais uma vez ajuda os moradores da região.

O anúncio é feito, ao lado do próprio Fulano, que acompanha as festividades, dá abraços, beija crianças e conversa com todos que moram ali. Há, pelo menos, duas eleições, Fulano tem tentado se fazer presente, pelo menos na vista de todos.

Não dá para saber o que ele fez até agora. Entretanto, ele cumprimenta, conversa e discute quando falam mau do seu partido. É um político em formação.

As placas de agradecimento começam a pipocar em todas as cidades

Mesmo sem ter sido eleito ainda a nenhum cargo público, seu nome está na placa de agradecimento a mais uma obra que o bairro ganhou. Obra, cuja inauguração, inclusive,  será celebrada com um show de uma dupla sertaneja famosa, como costuma acontecer em diversas inaugurações no Brasil. Todas possuem a mesma característica: muitos anos de construção, muita bajulação na entrega e falta de manutenção no restante do tempo.

Mas quem se importa com isso, quando os balões pula-pula dão a alegria momentânea das crianças, que não verão esse tipo de brinquedo no bairro por um bom tempo. Quem liga para isso, quando duplas sertanejas posam ao lado dos comandantes por cachês altos para trazer mais popularidade a prefeitos, deputados, vereadores e seus derivados.

Quem vai se importar com isso se, do outro lado de uma disputa, o partido de oposição faria o mesmo?

Enquanto essas questões seguem sem resposta, Fulano segue em frente, em busca de seu primeiro mandato de alguma coisa.

Afinal, é ano de eleição. Ou seja, ano de estranhar certas "bondades". 

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