segunda-feira, 12 de março de 2012

O desleixo de João Manuel


João Manuel andava com seu caminhão no meio de uma avenida importante. Não era um veículo daqueles. Com as rodas em estado complicado, sem passar no mecânico há anos, fazia muito barulho enquanto  andava pelas vias da cidade. Muitos o criticavam e tinham até receio de andar dentro daquele monte de ferro.

A culpa não era do caminhãozinho que bem cuidado seria até bonitinho. Mas o desleixo de João Manuel o deixava mal, desbotado, com fumaça saindo para todos os lados e vários problemas.

O que João não esperava é pela blitz que o aguardava no fim da avenida importante.


― Vamos ter que dar uma olhada no seu caminhão.
― Sem problemas seu guarda.

João Manuel não era má pessoa. Seu maior defeito era justamente o desleixo com seu veículo. Usava-o para fazer entregas e mudanças e ter um 'ganha pão'. Não ambicionava muito e nem imaginava ter um caminhão muito melhor.

― Olha aqui está errado. Aqui também. O seu retrovisor não funciona, parece que você não fez inspeção ambiental, e o pneu está liso também né?

― É né seu guarda, está né...

― Bom isso também dá uma multa, mais as outras e, também, a carteira, deixa eu ver.

― Seu guarda, você acha que se eu vender o caminhão, eu consigo pagar todas essas multas?

O policial não era dos maus. Estava naquele dia de apenas cumprir seu papel com a sociedade. Sabia que de nada adiantaria tantas multas e que elas apenas deixariam mais difícil a vida daquele senhor.

― Vamos fazer o seguinte: eu vou multar só os pneus, anoto aqui os dois, mas o valor é o mesmo que um. Daí o senhor não se complica tanto. Tudo bem? ― disse num tom que mostrava compreensão. ― Pronto, pode ir.

Seu João Manuel ficou feliz e ficou comovido com a ação. Afinal, uma boa alma tinha encontrado em seu caminho. Mas ele era um trabalhador sério, que não se abate nem se deixa levar pela emoção.
Sem constrangimento, ele encerrou sua passagem com um pedido de ajuda:

― Obrigado seu guarda, mas tem uma coisa. A partida está meio ruim, será que você não me ajuda a empurrar?

― Ainda tem essa...

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