Todos os domingos, a Rua Puruba, no Jardim Ângela, zona sul de
São Paulo, tem cavaletes colocados em um trecho da via. Ao invés de carros e do
trânsito, o que se vê, são crianças e adolescentes que jogam futebol. A
brincadeira de rua está presente em diversas cidades do Brasil e são, muitas
vezes, o primeiro passo para o mundo da bola, ou apenas uma diversão a mais.
Jovens em Guainases aproveitam rua fechada (Foto: Fernanda Kanasiro) |
A diferença da Rua Puruba é que os cavaletes fazem parte de um
projeto nas denominadas “Ruas de Lazer”, programa que incentiva a prática
esportiva próximo das residências.
Na capital paulista é possível conseguir o benefício. Os
moradores precisam fazer um abaixo assinado, com a assinatura de 70% dos habitantes
do local, e encaminhar para a Subprefeitura da região. A ideia é analisada junto
com a Secretaria Municipal dos Esportes e da Companhia de Engenharia de Tráfego
(CET). Depois, são disponibilizados materiais esportivos, além de sinalização
para bloquear a via.
A iniciativa funciona aos domingos e feriados, das 09h às 17h,
como acontece na Rua Cauã, uma das 28 ruas de lazer da região do Campo Limpo,
também na zona sul da capital. O prensista José Salvador acredita que a
implantação é positiva. “Ficou melhor, pois aqui passavam muitos carros. [A
rua] servia para cortar caminho”, diz.
“O pessoal sempre joga bola na rua, e quando fechou, melhorou
para as crianças”, afirma o morador Fernando Lopes que destaca a importância
para a comunidade da Rua Caraunália, no mesmo bairro. No entanto, ele reclama dos equipamentos
disponibilizados, que não tem sido renovados pela prefeitura.
As principais vias a receber o benefício se encontram nas
periferias da cidade. São lugares com menor circulação de veículos e próximo da
moradia dos usuários, o que se torna um benefício.
“Quanto mais o meio ambiente próximo à criança oferecer meios
para a prática de atividades físicas e esportivas, maior será o número de
estímulos que ela receberá, o que só pode colaborar para o seu pleno
desenvolvimento”, explica a doutora em Ciências do Esporte pela Universidade de
São Paulo (USP), Maria Tereza Bohme.
Mas é preciso empenho para manter uma rua de lazer. Segundo
a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo são
aproximadamente 1.000 locais com esse formato na cidade. Porém, apenas 30%
funcionam efetivamente, devido à falta de comprometimento dos usuários.
Para a doutora em Educação pela USP, Flávia da Cunha Bastos, o
Estado deveria capacitar os moradores para que eles mesmos organizem as
atividades de forma independente. “Acredito que seria papel do poder público
oferecer meios para que o grupo social adquira autonomia para gerir e
desenvolver a rua de lazer sem a dependência de uma determinada administração
municipal”, analisa.
Matéria publicada originalmente no jornal Expressão, da Universidade São Judas Tadeu, em 2011.
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