quinta-feira, 1 de março de 2012

Carnaval de Pirapora: O outro lado da principal festa brasileira

Uma sirene toca, os carros se preparam, roncam os motores e o início do carnaval é aguardado com ansiedade.

Centro de Pirapora do Bom Jesus, as margens do Rio Tietê (Foto: Paulo Talarico)
Por enquanto não é um público tão grande, mas a expectativa da cidade é de festa. Afinal, o caminhão pipa já está preparado e o calor não vai vencer a força da água que será jogada ao público.

A música é tão alta quanto o som dos motores. As canções são aquelas que todos escutam durante o carnaval e, também, aquelas saudosas marchinhas.

“Se você pensa que cachaça é água, cachaça não é água não...




Os carros partem. São veículos com o teto desmantelado para virar um conversível improvisado e de todas as cores, amarelo, preto, até um branco que parecia ter saído do hospital. Em cima deles, cinco, seis, sete, oito pessoas, não tem limites para quem vai comemorar.

O trio elétrico também começa a andar, com um apresentador em cima e é seguido pelo caminhão pipa. Todos vão para a ponte.

As principais vias estão interditadas, e um congestionamento de cinco carros se forma atrás da folia.

“Ei você ai, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí. Não vai dar, não vai dar não...

Caminhão pipa anima o carnaval de Pirapora (Foto: Paulo Talarico)

As crianças vão na frente enquanto o público aumenta. O carnaval de rua de Pirapora do Bom Jesus começa. A cidade é pequena e fica 56 km distante de São Paulo. É conhecida, principalmente, pelas características históricas, como a catedral, e por ser um centro católico, com um grande santuário no topo da cidade.

Mas o catolicismo está longe no carnaval. As marchinhas vão se modificando para o tradicional, com ritmos de axé, samba, dentre outros.

Enquanto alguns jovens cantam, dançam e se molham, passando pela Rua Bom Jesus, uma senhora de idade exclama: “Esse mundo está perdido”.

“Chiiiiiiiiiii - cleeeeeeee – te, oba oba”.

Trio Elétrico atravessa a ponte, acompanhada da multidão, rumo ao centro

Em meio às músicas e as casas antigas, cartazes mostram que é ano de eleição em Pirapora e a campanha já começou. “A Prefeitura informa que não é culpa dela o cancelamento do evento de UFC do Raul, como alguns fizeram parecer”.

Já um jornal, distribuído gratuitamente, traz mais informações sobre o caso e outras denúncias contra o tal do Raul. De acordo com o informativo, ou desinformativo (mau escrito), Raul teria sido um mau para a cidade e tem dito mentiras sobre Pirapora. É a forte oposição piraporense.

“Bebeu água, não, tá com sede, to, olha olha olha”.


O desfile dos carros “conversíveis” segue, mas, depois de muita cerveja dos motoristas, eles batem um veículo no outro, com crianças em cima, gente pilotando de forma absurda e agressiva. Mas parece que os carros foram projetados justamente para esse tipo de choque.

Enquanto os carros se batem, em cima de um palanque, não há nenhum cantor e nenhuma atração. Mas as pessoas estão sentadas ouvindo a música das caixas de som.

Ali, o show é das crianças que correm de um lado para o outro, se divertem com a inocência desse carnaval que é meio diferente e igual ao mesmo tempo. Elas não sabem porque correm, nem o que dançam, mas ainda assim continuam, incansavelmente. 

É um carnaval de brincadeira.

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